quinta-feira, 14 de março de 2013

Laços de família - Clarice Lispector


  Depois da visita de duas semanas, Catarina levou sua mãe para a estação, onde ela tomaria o trem e se despediria da filha. 

  Enquanto elas estão no táxi, Catarina se lembra do desconforto causado, graças a convivência naquele período, entre sua mãe e seu marido. Ambos não se suportavam, mas, na hora da partido, os dois se transformaram. Agora, um tratava o outro com delicadeza. Com esse comportamento, Catarina ficava com vontade de rir, mas como não podia, ria pelo olhar.

  A mãe, chamava-se Severina. Uma mãe severa, que não media as palavras ao julgar a magreza do neto. Catarina concordava, sem perder a paciência. Antônio, esposo de Catarina e pai do menino, certa noite irritou-se com tais observações da sogra.

  De repente, uma freada do carro lançou as duas mulheres uma contra a outra, provocando entre elas uma intimidade de corpos já esquecida. Era como se houvesse acontecido um desastre.Elas evitaram olhar uma para outra até a estação. Catarina nunca foi de muitos carinhos com a mãe.Fora, sim. uma filha muito próxima, muito achegada ao pai, cheia de cumplicidade.

  Quando a campainha da estação tocou, mãe e filha se olharam assustadas, chamando uma pela outra. Como quem tivesse esquecido de dizer uma para outra, que eram mãe e filha. Mas não o disseram, ao invés disso, mandaram lembranças para os parentes, e o trem se foi. 

  Catarina voltou para casa "disposta a usufruir da largueza do mundo inteiro, caminho aberto pela sua mãe que lhe ardia no peito." Encontrou o marido na sala, lendo os jornais de sábado. O menino magro estava no quarto, distraído. Tentando chamar a atenção do filho, a mãe sacudia uma toalha na sua frente. E foi nesse momento, que pela primeira vez, ele disse "mamãe", sem pedir nada e em um tom diferente. 

  Alguma coisa mudara entre eles, e o seu corpo inteiro riu, não só os olhos. Pegou nas mãos do seu filho, e o levou para passear, deixando Antônio na sala, sem saber aonde iam.

  Ele olhava pela janela, a mulher andando com o filho. Sentia-se frustrado, porque ela vivia sozinha o seu momento de alegria. Decidiu que depois do jantar iriam ao cinema. Depois do cinema, seria noite. 

    
Representação das personagens (mãe e filho)
Imagem retirada do Blog PB
Atividade proposta pela professora Ilvanita, de Língua Portuguesa, que nos orientou a ler este conto, entre outros, para nos aprofundarmos nos contos psicológicos, gênero estudado em sala de aula.

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